REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA – UMA DAS BIBLIOTECAS MAIS LINDAS DO MUNDO
Na cidade do Rio de Janeiro existe um espaço de muita beleza e tradição. Além de toda a grandeza arquitetônica, esse lugar é de extrema importância para a história. Estamos falando sobre o Real Gabinete Português de Leitura, que preserva grande parte da história entre o Brasil e Portugal. Confira!
Antes de começarmos falando sobre a história desse lugar, vamos exaltar a elegância e reconhecimento do Real Gabinete Português.
RECONHECIMENTO
O Real Gabinete Português de Leitura foi eleito em 2014, a 4ª mais bela biblioteca no mundo, entre 20 posições, segundo a revista Time.
Deslumbrante, certo? Agora vamos te contar um pouco da história!
HISTÓRIA DO REAL GABINETE PORTUGUÊS DE LEITURA
Como e de onde veio a ideia de criar uma instituição que preservasse tanto da história de Portugal no Brasil? A ideia surgiu um certo tempo após a chegada da família real portuguesa no Brasil, com a mudança da sede do governo de Portugal para a colônia.
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QUEM FORAM OS IDEALISTAS?
Mais precisamente em 1837, um grupo com mais de 40 imigrantes portugueses se reuniram na cidade do Rio de Janeiro e organizaram uma reunião. A grande maioria dos participantes deste grupo eram comerciantes, advogados, jornalistas e intelectuais.
Alguns deles inclusive haviam emigrado para o Brasil pela divergência de ideias em Portugal naquele período histórico. Esta reunião ocorreu na residência do Dr. Antônio José Coelho Lousada (hoje está localizada na Rua Primeiro de Março), número 20, na época.
OBJETIVO DESSA INSTITUIÇÃO
Esses senhores tiveram a ideia de criar uma biblioteca. O objetivo deste grupo seria proporcionar aos seus sócios a oportunidade de desenvolver e ampliar seus conhecimentos. Os idealistas estavam preocupados com o nível de instrução dos companheiros e visavam incentivar a busca pela leitura. O Gabinete Português de Leitura foi criado em 14 de maio de 1837.
COMO SURGIU O MOVIMENTO DE LEITURA?
O movimento da leitura surgiu na França, logo após a revolução em 1789. No país, foram criadas diversas lojas que faziam o empréstimo de livros por alguns dias, a preços simbólicos. Com o surgimento dessa instituição na cidade, foi nomeado seu primeiro presidente José Marcelino Rocha Cabral.
MODIFICAÇÕES
Inicialmente estes espaços eram conhecidos como gabinetes de leitura, seguindo o modelo português. E várias outras instituições nesse estilo foram sendo criadas em outras partes do país. Na metade do século XIX, em São Paulo, tais instituições foram criadas tendo como propulsores os ideais maçônicos e de república positivista.
Por fim, a classificação dessas instituições para “Bibliotecas Públicas”, para acesso do público em geral, ocorreu somente em 1900. E o título de “Real” veio em 1906, pelo então Rei Don Carlos I.
ESPAÇOS ONDE FUNCIONOU
Com o objetivo de construir maiores espaços e mais grandiosos para expressar a importância da instituição foram adquiridos alguns outros terrenos. Veja alguns endereços onde funcionou o Real Gabinete Português de Leitura:
1842: Na Rua da Quitanda, 55
1850: Foi na Rua dos Beneditinos, 12
1871: Rua da Lampadosa, (atual Rua Luís de Camões)
1872: Antigo terreno do Hotel São Pedro
1880: Foi eleita uma nova sede para a instituição com o projeto do arquiteto português Rafael da Silva Castro, com traços neo manuelinos, visando a epopeia camoniana.
1888: O novo prédio sede foi inaugurado pela Princesa Isabel
DETALHES SOBRE A ARQUITETURA DO GABINETE
Como havíamos comentado anteriormente, o arquiteto Rafael Da Silva e Castro, foi o responsável pela construção do edifício sede. Leia sobre algumas curiosidades interessantes:
1 O estilo neo manuelino do edifício retrata a exuberância do período das Descobertas Portuguesas. Esse estilo é denominado pois coincidiu com o reinado do Dom Manuel (1495-1521);
2 A fachada do gabinete é inspirada no Mosteiro dos Jerônimos em Lisboa. Foi feita em Pedra de Lioz, o artista foi o Germano José Salle, que foram trazidas em navio, do Portugal ao Rio;
3 Existem quatro estátuas no edifício, são elas:
– Pedro Álvares Cabral (1467 – 1520);
– Luís de Camões (1524 – 1580);
– O infante Dom Henrique (1394 – 1460); e
– Vasco da Gama (c. 1468 – 1524).
4 Os medalhões na fachada representam tais escritores:
– Fernão Lopes;
– Gil Vicente;
– Alexandre Herculano; e
– Almeida Garrett.
5 Na parte interior do edifício prevalece o estilo neo manuelino. Segue o estilo pelas estantes feitas de madeira para os livros e objetos decorativos;
6 Estão expostos no Salão de Leitura um belíssimo candelabro e uma claraboia com estrutura de ferro. Este foi o primeiro uso deste tipo de arquitetura no Brasil;
7 No mesmo salão há um momento com referência ao Altar da Pátria, que está feito em prata, marfim e mármore. Possui 1,7 metros de altura, também em celebração aos descobrimentos portugueses, adquirido pelo gabinete em 1923;
8 Após ser um espaço aberto ao público já em 1900, era muito comum encontrar no gabinete de leitura grandes nomes como o Machado de Assis, João do Rio e Olavo Bilac;
9 Foi no Real Gabinete Português de Leitura que as cinco primeiras sessões solenes da Academia Brasileira de Letras foram realizadas.
ALGUMAS OBRAS RARAS QUE PODEM SER ENCONTRADAS NO GABINETE
1 As Ordenações de Dom Manuel (1521)
2 Os Lusíadas de Luís de Camões (1572)
3 Manuscrito de Tu, só tu, puro amor de Machado de Assis
IMPORTANTES EVENTOS
PRIMEIRO EVENTO
Um dos mais importantes eventos que aconteceram foi o Tricentenário da morte de Camões em 1880. O orador oficial da solenidade foi Ramalho Ortigão. Em certo momento de seu discurso Ortigão falou:
“E se um dia o nome de Portugal houver de desaparecer da carta política da Europa, esta Casa será ainda como a expressão monumental do cumprimento da profecia posta por Garrett na boca de Camões: … não se acabe a Língua, o nome português na terra”. Ressaltando a importância da grandeza do país e sua cultura.
SEGUNDO EVENTO
O segundo importante evento que ocorreu na instituição ocorreu logo após o Rei Don Carlos I nomear o “Gabinete de Leitura” como “Real Gabinete” em 1906. Neste mesmo ano havia sido organizado o novo acervo bibliográfico no gabinete. O responsável pela organização foi um importante intelectual brasileiro, o Benjamin Franklin de Ramiz Galvão.
Em comemoração foi realizada uma exposição no Salão dos Brasões da instituição. A exposição continha pinturas do José Malhôa com 125 quadros. Foram vendidos 26 quadros. Alguns quadros foram adquiridos para ser parte do Real Gabinete e podem ser apreciados ainda no espaço.
TERCEIRO EVENTO
Na década de 20, o Real Gabinete passa por uma nova fase. Para a comemoração do primeiro centenário da Independência, foi criada uma empresa com o objetivo de editar em volumes a História da Colonização Portuguesa no Brasil.
O projeto histórico aconteceu sob a direção de Carlos Malheiros Dias (importante pesquisado histórico). Esse projeto contou ainda com grandes nomes dos dois países, em diversos temas como artes, literatura e ciências.
ALGUNS DOS NOMES
Luciano Pereira da Silva
Duarte Leite
Júlio Dantas
Oliveira Lima
Paulo Merea
Pedro Azevedo
Antônio Baião
Jaime Cortesão
LIVROS
Os livros da História da Colonização Portuguesa foram editados em Porto, pela Litografia Nacional, em diversos fascículos. Foram distribuídas 12.000 cópias no Brasil e 8.000 em Portugal. Naquela época os números impressionaram.
QUARTO EVENTO
Neste evento em 1931, foi realizado o 1º Congresso dos Portugueses no Brasil. O objetivo era manter a unidade da colônia. Foi de extrema importância para evitar os movimentos e burburinhos da oposição na colônia. Foi criado também o “Dia de Portugal”. Sendo comemorado todos os anos no Real Gabinete.
UMA IMPORTANTE DECISÃO
Uma importante decisão foi tomada pelo governo português em 15 de março de 1935. O decreto nº 25.134 teve como objetivo conceder ao Real Gabinete o benefício de receber de todos os editores portugueses um exemplar de suas obras.
Isso garante ao instituto a criação de uma biblioteca atualizada e com um acervo do que se edita em Portugal. Pouco tempo depois, na década de 40 foi criado o Instituto de Alta Cultura com o objetivo de proporcionar o intercâmbio cultural entre o Brasil e Portugal.
DIFICULDADES FINANCEIRAS
A maioria dos benfeitores e patrocinadores de instituições preferiam realizar investimentos e doações para espaços como Santas Casas, Irmandades, Beneficências e Obras de Assistências. Deste modo os gabinetes de leitura e outros espaços como liceus e grêmios, quase nunca recebiam esse tipo de auxílio financeiro.
PIOR MOMENTO
Por volta dos anos 50, o Real Gabinete começou a sofrer muitas dificuldades financeiras. Com a morte da maioria dos “apoiadores” do instituto, vieram os anos de crise. As despesas eram pagas em grande parte pela diretoria e muitos anos depois o governo português repassava uma quantia muito baixa de ajuda financeira para amenizar a crise que estava sofrendo a instituição.
SURGIMENTO DO “CENTRO DE ESTUDOS”
A gestão percebeu que era necessário mudar algumas atividades para que a instituição pudesse voltar aos seus dias de sucesso. Em 1969 o presidente Antônio Pedro Martins Rodrigues resolveu criar o “Centro de Estudos”.
CENTRO DE ESTUDOS
No Real Gabinete do Centro de Estudos tem como principal ideia era promover cursos, palestras, congressos e conferências onde professores universitários eram os responsáveis por dirigir essas atividades.
IMPORTÂNCIA DO CENTRO
Além de promover o intercâmbio e a colaboração das universidades e institutos culturais e artísticos entre os países. Os professores colaboradores do centro de estudos, sempre contou com os mais importantes nomes em áreas como literatura, artes, sociologia, história, antropologia e muito mais.
Também existe no espaço um Polo de Pesquisa Luso-Brasileira, criada em 2001 pela professora Gilda Santos. O polo de pesquisa conta com aproximadamente 60 professores e pesquisadores.
CAMPANHAS DE AJUDA FINANCEIRA
Foram realizadas algumas campanhas financeiras para resgatar o Real Gabinete daquela má situação. Anteriormente a instituição era constituída apenas de representantes portugueses, e passou a receber então colaboradores de outros países de língua portuguesa. Algumas empresas brasileiras participaram do resgate ao Real Gabinete e ajudaram a reorganizar e modernizar a instituição.
EMPRESAS QUE AJUDARAM
O Banco Itaú financiou toda a área de informatização, a criação do centro de multimídia cultural e parte da restauração do prédio. Outra importante contribuição foi feita pela Fundação Calouste Gulbenkian. Esta fundação doou os recursos que eram necessários para a aquisição das obras do prédio do Real Gabinete.
Já o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal concedeu uma ajuda a instituição pois reconhecia a importância na difusão da cultura portuguesa no Brasil. Muitas outras empresas como a Biblioteca Nacional, Instituto Camões, Liceu Literário Português e a Real Caixa de Socorros Don Pedro V, foram de extrema importância para a história da instituição.
REAL GABINETE NOS DIAS ATUAIS
O Real Gabinete Português de Leitura é um dos edifícios mais belos e icônicos da cidade do Rio de Janeiro. O prestígio da instituição permanece ao longo dos anos. Este acervo bibliográfico é de extrema importância para os dois países.
Com certeza o Brasil é muito orgulhoso de abrigar tamanha e notória instituição que representa a cultura portuguesa de maneira grandiosa. O Real Gabinete Português de Leitura é o maior espaço a oferecer obras de autores portugueses fora de Portugal, são cerca de 350 mil obras.
INFORMAÇÕES DO REAL GABINETE
Endereço: Rua Luís de Camões, 30 Centro – Rio de Janeiro
Horário de funcionamento: segunda a sexta das 09h às 18h.
Telefone: (21) 2221-3138
E-mail: gabinete@realgabinete.com.br
Descubra muito mais detalhes sobre o Real Gabinete Português de Leitura no site da instituição. O que você achou sobre a história desse espetacular espaço?